Esqueci do aniversário de uma amiga querida. E isso não tem desculpa. Mesmo que você seja, como eu, do tipo que esquece o próprio aniversário e que há séculos comemorou com o marido o fim das celebrações de aniversário de casamento, pela simples razão de que já casamos e descasamos um com o outro algumas vezes e não há meios de lembrar datas na vertigem desta montanha russa que é nosso relacionamento. Deixamos assim, de vez em quando saímos e celebramos o dia de hoje!
Não, não tem justificativa para esquecer o aniversário de uma amiga querida. Mas aconteceu. Agora é ligar com alma de cachorro molhado de chuva e pedir desculpas. Dizer que foi engolida pela vida, sobretudo, nada de inventar desculpas, boas amigas sempre sabem quando você está mentindo -- só fingem que acreditam porque compreendem que às vezes a gente quer muito parecer com a imagem perfeitinha que criamos para nós mesmas!!! Convidar para um jantar só vocês duas, quem sabe ela aceita? Arrancar o afeto da correria e enfiar à muque um encontro na agenda. Ela vai entender, não vai?
Espero que sim. Mas continuo perplexa com meu esquecimento. Minhas amigas são meu espelho favorito, mais confiável, mais íntimo. Conhecem uma parte de mim que talvez seja a mais minha, aquela que não é mãe nem mulher nem filha de ninguém. Aquela que tenta alinhavar todos estes papéis e às vezes desanima, às vezes precisa delas para rir de si mesma.
Um estudo surpreendente publicado pelo Departamento de Psicologia da Universidade da Califórnia em 2002, revelou que, ao contrário dos homens, as mulheres em situações de stress nem sempre reagem da forma “clássica”, ou seja, fugir ou lutar. A resposta feminina, que os americanos definiram como “tend and befriend” e que a gente poderia entender como “cuidado e intimidade”, indica que, há milhares de anos, quando as hordas humanas vagueavam pelo planeta fugindo dos tigres de dentes de sabre, os homens decidiam a hora de fugir ou a hora de atacar enquanto as mulheres se dedicavam a proteger os filhotes e a cultivar os laços de amizade com outras fêmeas que garantiriam a sobrevivência de todos em emergências futuras. Esta resposta antiqüíssima está gravada em nós e é comandada por um dos hormônios que fazem parte da enxurrada química que nos invade em situações de perigo, a ocitocina. Junto como nossos hormônios femininos, como o estrógeno, a ocitocina produz um efeito calmante que fica mais intenso ainda à medida em que nos concentramos neste tipo de atividade “nutritiva”.
Moral da história: a gente precisa de amigas, muito mais do que imagina! E no entanto...
A terapeuta americana e autora de vários livros sobre relacionamentos, Ruthellen Josselson, acredita que relações entre mulheres são tão poderosas que não cabem em nenhum retrato idealizado, são “laboratórios de conflitos”. É entre nós, mulheres, que aprendemos desde cedo a lidar com as várias faces do ser feminino. E isso inclui afetos para a vida toda, fofocas, deslealdades, ciúmes, cuidado, carinho...entre amigas, não há lugar para se esconder. Em seu livro Best Friends: The Pleasures and Perils of Girls’ and Womens’ Friendships, escrito em parceria com outra craque em relações humanas, Terri Apter, a terapeuta explica que “ao longo da vida, toda vez que uma menina ou uma mulher sai em busca daquilo que é mais autêntico e genuíno em si mesma, é no espelho do olhar da amiga que ela vai encontrar as respostas”, o que não quer dizer que ela vai sempre adorar o que vê refletido, espelhos são assim mesmo, implacáveis feito o olho dos gatos...
E as psicólogas americanas continuam: estar entre amigas é uma experiência “curadora” e única, no entanto, as estatísticas mostram que quando as mulheres estão afogadas no trabalho, no cuidado dos filhos, nas obrigações familiares, são as amigas as primeiras a pagarem o pato da distância e é aí que os aniversários são esquecidos...
Viram? Está na hora de mudar tudo isso e arranjar tempo para “conversas de mulheres”.